quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

13




I

Tércio-décimo dia do calendário, o número treze é grafado com dois algarismos primos, a saber:  o 1 (um) e o 3 (três). Por extenso, ou letra cursiva, inclinada, reta ou curva, o treze há de possuir sempre cinco letras, duas sílabas, e na articulação (da boca), obriga a língua a parar na ponta dos dentes da frente, a fazer um movimento de recuo, depois um vibrar ligeiro e úmido, seguido de um assoprar abrupto com som saindo entre lábios contraídos; fazendo rugas à cara dos velhos, sujando o batom das moças.

II

Culpa é do Latim que pariu a palavra,  uma composição de  tre (três) e décim: tredécim. Tredécim> tredcim>trezim> treze. Algarismo de dois dígitos: número esguio, seguido de peitos (ou bunda) salientes de acordo com o ângulo, a predileção, o gosto de quem mira. Já a fama de mau dia, deve-se à azaração de Loki, espírito do mal e da discórdia, penetra na festa de Odim; ou à Friga, ressentida deusa nórdica do amor e da beleza; ou ao sempre apedrejável Judas, décimo terceiro a ocupar a mesa e dar beijinhos falsos em Jesus.

III

Já a numerologia diz que o treze, além de primo e irregular, não possui a nobreza e a exatidão dos doze meses, não gira na roda festiva do zoodíaco, chuta o cestinho da dúzia, não é duas vezes o sete, número mágico das fadas, das simbologias maçônicas, da perfeição litúrgica e sua lista de pecados e virtudes.

IV

Treze é número insolúvel, indivisível, o fim em si mesmo, a hipótese de uma má sina, de um destino desatinado, sem sossego. Ou desassossegado.

V

Feito um tal Fernando Pessoa, -- sujeito multíplice, ele e o outro, ele e ele mesmo, heterodoxo total, [que sorte do acaso e surpresa de quem pensa /digita /compõe /reescreve /bloga essa ode/parode] faria aniversário justamente neste 13 de junho. Ou seja, não fosse morto desde 1935, hoje faria por certo 121 anos, constituindo-se o poeta mais longevo de toda uma geração de modernistas portugueses, decrépito, mas vivo: pura maravilha em decomposição poética. Mas não quis a cirrose, o doce sabor amargo de ser triste e fingidor fazê-lo chegar a tanto.

VI

[Por isso presto aqui, para não fugir à ocasião, meu fiapo (também) de pieguíssima homenagem, antes de cair na subjetvia primeira pessoa do singular, que é afinal, a preferida dos blogues, mãe da Lírica e de onde provém, por certo, toda Filosofia, toda Literatura e Arte].

VII

De pronto, recuso-me a dar as caras do meu nome, pois, como mais que bem dito falou Julieta na pena de Shakespeare: “O que é um nome? A rosa, se tivesse outro nome, seria menos perfumosa?!” Eu que não sou de feder nem de cheirar, afirmo que o treze, de todo calendário, é o único dia que por si tem história para se contar. Tirando a sequência interminável de filmes ruins feitos em seu nome, sobrevive com ar de mistério, pondo pavor mundo afora.

VIII

Parascavedecatriafóbicos ou frigatriscaidecafóbicos são esta espécie raríssima de gente que se péla às sextas-feiras 13. Ainda mais infelizes são os triscaidecafóbicos, que morrem um pouco mais todo mês ao décimo terceiro dia. Não por acaso, no tarô é a Morte (prometendo também renascimento), e só dá sorte mesmo no galo, para quem aposta no jogo do bicho.

IX

Treze é torto, é vesgo, é sinistro, é o gauche drummondiano. Thirteen é o looser dos números. Por isso mesmo, cardinal que eu catei para mim, por vocação atávica de crer nos mistérios mais banais. Número da sorte de quem tropeçou anos e anos no az-zahar, flor árabe do jogo de dados que os franceses nomeiam hasard. Sujeito pensante, quieto, solitário, medroso. Mil rituais brotando na alma por conta do número. Mantra assoprado na infância combinado com três toques na madeira. Prisioneiro deste tique de riscar as páginas lidas dos livros da biblioteca Cecília Meireles, e marcar assim, sua existência míope: 13, 130, 133.

X

Mistério inaugurado no conto preferido de Andersen, a moça oferecendo-se ao príncipe que sucumbe à tentação logo na primeira noite.

XI

Dos treze, a melhor de todas as memórias: a inauguração da consciência exata do corpo. O febril orgasmo solitário numa noite sem data, escura e subitamente luminosa. A convicção maravilhada de uma infração gravíssima. A entrada definitiva no pecado, a se repetir com culpa declinante e gozo vida a fora.

XII

Dois algarismos, duas sílabas: nenhum mistério. Superstição sobrepondo-se a toda lógica, extensão tranqüila da divina providência contra toda ordem, certeza e práxis. Start de um mundo novo, possível, promissor. Treze é para mim violação profana do que não está instituído em nenhum livro sagrado. Promessa de todos os mistérios sem dogmas ou ciência ensejadas num só número.

XIII

E eu saúdo, muito artificial, nesses treze fragmentos, a inauguração do dia 13 no blog dos 30, para crédito e descrença dos que habitam o mundo dos sentidos.


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