terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Problemas de gênero, Judith Butler



O livro que fundou a Teoria Queer com nova capa e atualização ortográfica Neste livro inspirador, que funda a Teoria Queer, Judith Butler apresenta uma crítica contundente a um dos principais fundamentos do movimento feminista: a identidade. Para Butler, não é possível que exista apenas uma identidade: ela deveria ser pensada no plural, e não no singular. Ou ainda, não é possível que haja a libertação da mulher, a menos que primeiro se subverta a identidade de mulher. Com essa formulação radical, Judith Butler interroga também a categoria de heterossexualidade, de forma a relançar a oposição sexo e gênero em novas coordenadas e em outras linhas de força, nas quais podemos nos aprofundar em perguntas como: o que é ser homem e o que é ser mulher?; o que faz um homem ser homem e o que faz de uma mulher uma mulher? Questões cuja ampliação contemplaria a multiplicidade de sexualidades, tão visíveis na contemporaneidade. Problemas de gênero é o primeiro livro de Butler publicado no Brasil, e talvez seja o mais conhecido. Lançado na década de 1990 nos Estados Unidos, esse livro escrito de forma provocativa e pouco usual no meio acadêmico contribuiu de forma decisiva para a renovação crítica do pensamento feminista na atualidade.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

sábado, 10 de agosto de 2013

Avenida Brasil - imprensa portuguesa


Avenida Hollywood

Não é Os Sopranos nem Sete Palmos de Terra, mas a telenovela da Globo Avenida Brasil recorre com estilo e gosto às convenções e às histórias do cinema, incluindo as que a época dourada de Hollywood nos deixou. E isso faz dela a melhor série que nos últimos tempos se viu na televisão generalista.
Agora que caminha para o fim (faltam duas ou três semanas), a telenovela da Globo Avenida Brasil merece, sem reservas, o elogio: foi a melhor série de ficção que este ano passou na televisão portuguesa. Não há ironia nesta frase. Não é boutade. Admita-se: talvez diga alguma coisa sobre a programação dos canais generalistas. Talvez seja precipitada. Não disfarça, todavia, qualquer duplo sentido.
Já tem 40 anos a relação das telenovelas brasileiras com os espectadores portugueses. Marcaram o imaginário de várias gerações com muitos clichés, escapismo (poucas ousaram representar o trabalho), incongruências em termos de narrativa. Mas também com aforismos certeiros, expressões e diálogos delirantes e, em particular nas últimas décadas, com uma abordagem a temas delicados que enerva, quando cede a uma representação fantasiosa do outro, e que comove, quando resiste à tentação do maniqueísmo e ousa caminhos mais difíceis, mais complexos. Ainda se lembram da defesa que Eduardo Prado Coelho fez de Laços da Família nas páginas deste jornal?
Em Avenida Brasil, o enredo principal anda à volta de uma vingança. Abandonada aos 11 anos pela madrasta (Carminha) numa grande lixeira, Nina regressa ao Rio de Janeiro e não hesitará em tornar o mundo um lugar mais odioso para fazer justiça. Como em todas as telenovelas, a trama alonga-se, sucedem-se as habituais voltas e reviravoltas e, no fim, os bons vencem os maus. Até aqui nada de novo. O que distingue Avenida Brasil é o modo como esta história, envolvida num formato repetido, por isso familiar, é filmada, posta em imagens.
António Pinto Ribeiro, em Dezembro do ano passado, sublinhava neste suplemento a apropriação da linguagem do cinema pela telenovela; o fotógrafo Daniel Curval no seu blogue (numfilmedegodard.blogspot.com), escrevia que "toda a gramática da linguagem cinematográfica está nesta excelente telenovela". Tinham toda a razão. Mas as afinidades não são exclusivamente formais. No Brasil, decorridos vários meses, os espectadores já se divertiam a identificar planos, sequências e cenas inspiradas em Little Miss Sunshine, Kill Bill 2, Cisne Negro, Dogville ou Carrie. Houve quem falasse em plágio, oportunismo, pastiche em série. Em telenovela pós-moderna.
Outras referências mais subtis deslizam da trama principal para os sub-enredos. E não são apenas técnicas ou imagens associadas ao film noir ou aothriller (porventura as mais utilizadas em Avenida Brasil). Para iniciar e concluir o seu plano de vingança, Nina infiltra-se, disfarçada de empregada, na casa de Tufão, o marido de Carminha (que esta engana e rouba há anos), e aí reencontra o amor de infância (Jorginho). Exceptuando as represálias da antiga madrasta (as duas travam um combate violento), só um obstáculo se colocará entre o par agora reunido: a relação da falsa empregada com o próprio Tufão, ex-jogador de futebol que, depois de uma carreira de sucesso, se tornou um milionário do subúrbio. No seu voluntarismo bondoso, Nina quer ajudar o antigo astro da bola a ser um homem culto, educado; aconselha-lhe livros (O Idiota e O Primo Basílio), filmes (As Noites de Cabíria, de Federico Fellini, que tem direito a uma cena deliciosa com a família do antigo futebolista), outros hábitos, outros modos. Sobretudo, procura libertá-lo da bonomia boçal que o domina e ele apaixona-se. Ora, os diálogos e as cenas que antecedem a declaração de amor do honesto marido da vilã (um dos momentos mais altos da telenovela) à jovem justiceira lembram momentos deGigi, de Vincente Minnelli, ou podiam pertencer a uma versão sexualmente invertida de My Fair Lady, de George Cukor, enquanto a caracterização física de Nina (cabelo curto, silhueta esguia, baixa estatura) não será estranha ao imaginário cinéfilo.
Se a comédia romântica é aflorada, a screwball comedy tem direito aos momentos mais intensos nas peripécias de Cadinho (o dono falido de uma empresa de investimentos) com as suas três mulheres, ou nas aventuras de um trio amoroso (Sueli, Roni e Leandro) que, para se manter junto, abdica do sucesso e do dinheiro. Será ridículo evocar o neo-realismo a propósito deAvenida Brasil, curiosamente uma telenovela que se esforça por parecer "autêntica", com uma profusão de exteriores e cenas de rua, planos da lixeira ou diálogos cheios de calão (nunca se ouviu tantas vezes "merda", "vaca", "cabra", "filha da mãe" na televisão portuguesa). Afinal de contas, telenovela é espectáculo. Ainda assim não faltam apontamentos de um realismo que, se não desmente, pelo menos questiona a imagem orgulhosa do novo Brasil. Amigos de Nina e do Jorginho desde os tempos do "lixão", Betânia e Valdo não tiveram a sorte de ser adoptados (em Avenida Brasil, o ambiente determina os indivíduos). Trabalham num posto de gasolina e vivem numa casa pobre, modesta. Um dia, Valdo revolta-se contra as humilhações do patrão e dos clientes, não aguenta viver com o parco dinheiro que recebe e aceita os subornos de Carminha. Não é malandro, não é mau carácter, tem as suas razões. Pelo menos é isso que o seu rosto, duro e amargurado, parece exprimir antes de desaparecer (numa actuação seca e curta de João Henrique Gago).
Também o casal de vilões tem os seus motivos. Assim que Avenida Brasilarranca, sabemos o que espera Carminha (Adriana Esteves) e o seu eterno amante, Max (Marcelo Novaes): a prisão, o castigo. Vão provavelmente morrer, ainda que sem o glamour de Bonnie & Clyde ou a sensualidade furiosa dos amantes de Duelo ao Sol, de King Vidor. Vivem marcados pela tragédia das suas famílias, pela miséria e pela fome do "lixão" (onde também cresceram) e só o dinheiro, a riqueza, o consumo, conquistados pelo crime e pelo engano, apagarão as memórias desse passado. Carminha encarna fielmente o papel da mulher fatal: desfiando promessas, montando ardis vários, ludibria e tenta sacrificar o amante. Mas os dois não simbolizam um mal absoluto, inexplicável. São pessoas que para se vingarem da vida não olham a meios (é Carminha que diz: "A vida é uma guerra: é você ou ela"). E quando se separam não o fazem sem luta (corpo a corpo), suor, saliva e lágrimas (será por isso que Avenida Brasil começa sempre às 23h ou as telenovelas brasileiras já exigem demasiado ao telespectador português?). Mencione-se o excelente trabalho da dupla que ajuda a humanizar as personagens, sem recear as convenções do melodrama.
Em Avenida Brasil, a telenovela brasileira não só não perdeu uma das suas melhores características como tomou para si códigos, referências visuais, recursos estilísticos e narrativos que lhe eram exteriores. Ou seja: continuou a confrontar-nos com comportamentos, visões do mundo e representações da vida, mas agora recorrendo a um arquivo muito especial: aquele que o cinema clássico lhe deixou. Eis o que explica o prazer que Avenida Brasil trouxe a quem a viu. Um prazer antigo, quase extinto.

http://www.publico.pt/opiniao/jornal/avenida-hollywood-26828080

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O feio e o belo na arte tecnológica

O feio e o belo na arte tecnológica
07 de maio de 2013 | 7h 15

Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

Tenho visto muitos filmes de ação. Vou ao cinema com meu filho de 13 anos e já sou um entendido nas missões impossíveis, nas porradas, nas cidades destruídas, nas armas assassinas. Quando estou dentro do cinema, me sinto dentro de uma máquina de sensações programadas. Sou levado por inúmeras direções: mergulho em suspense, em prazeres sádicos de assassinatos explosivos, em vinganças sem-fim, tudo narrado como uma ventania, como uma tempestade de 'planos' (cenas) curtos, nunca mais longos do que 4 segundos, tudo tocado por orquestras sinfônicas plagiando Ravel para cenas românticas, Stravinski para violências e guerras, tudo para não desgrudarmos os olhos da tela. Os filmes comerciais antigos apelavam para a comoção das plateias, estórias onde o 'bem' era recompensado, onde o amor movia personagens, onde chorávamos ou riamos desde o Gordo e o Magro até Hitchcock.

Hoje, passamos por emoções que nos exaurem como personagens dentro daqueles mundos em 3D, de pedras e balas que voam em nossa direção, que nos fazem em pedaços espalhados pela sala, junto com os copos de Coca-Cola e sacos de pipocas. Somos pipocas nesses filmes. É uma nova dramaturgia de Hollywood: a estética do 'videogame', em que a personagem principal não é mais o 'outro', mas nós mesmos, com o 'joystick' na mão e nenhuma ideia na cabeça. Mas, pensando assim, fui ver Iron Man 3 e viajei para um outro mundo reconstruído por efeitos especiais e tive o consolo do esquecimento de minha vida realista e mixuruca.

Quando saio do cinema depois desses filmes, caio num grande vazio; as ruas barulhentas e feias é que parecem irreais.

E os novos heróis não são políticos nem cowboys. Os novos heróis são semideuses com absoluta competência mecânica, percorrendo 'odisseias' tecnológicas

Os roteiros são feitos em computador, de modo a não deixar respiros para o espectador. É preciso encher cada buraco, para que nada se infiltre na atenção absoluta. Mais importantes que as personagens, são as 'coisas' em volta. Sim, as coisas. Personagem é só um pretexto para mostrar o décor. E o décor é um grande showroom dos produtos americanos, que são as personagens: maravilhosos aviões, os supercomputadores, a genialidade técnica lutando por algum 'bem' ininteligível. Neste neocinema século 21, as personagens não fogem de um conflito - fogem dos produtos. Não importa nem o enredo, nem o roteiro; só o gozo da cena. Esses filmes buscam na violência e nos desastres a mesma visibilidade total do filme pornô.

Não há mais tempo para um filme ser visto, refletido, com choro, risos, vida. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças. O conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos. O verdadeiro cinema político é o filme americano.

Por outro lado, nada é parte de um 'complô' para nos 'lavar o cérebro', nada disso. Não é uma propaganda consciente. Não há Comitê Central nem CIA, por trás. Os americanos são um produto deles mesmos, acreditam no que dizem. A sinceridade é sua arma total.

Logo depois da Guerra Fria, os filmes mostravam uma América em "frenética lua de mel" consigo mesma. Os Estados Unidos eram a "cultura da certeza". O paraíso americano era a perfeição do funcionamento. Com o 11 de setembro, junto com as torres, caíram também a arrogância, o orgulho da eficiência. Deprimiram por uns anos, mas retomaram a trajetória do mito americano e, assim como reconstroem as torres gêmeas, voltaram a fazer filmes para reconstruir o herói americano, tão humilhado na horrenda era Bush.

A destruição que vemos na vida, a sordidez mercantil, a estupidez no poder, o fanatismo do terror, o beco sem saída do fundamentalismo, a destruição ambiental, em suma, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além de qualquer crítica. O mal é tão profundo que denunciá-lo ficou inútil. E pior: não adianta se refugiar na arte. O cinema de autor ficou mirrado diante de tanta homérica velocidade. A arte como a conhecemos há séculos pressupõe uma imperfeição qualquer, uma fragilidade que evoca a natureza perdida; a arte inclui a morte ou o medo, mesmo no triunfo das estátuas perfeitas.

Pela influência do avanço da informação digital, turbinado pelo mercado global, foram se afastando do grande público as criações artísticas e literárias, as ideias filosóficas, os valores. Em suma, acabou toda aquela dimensão espiritual chamada antigamente de cultura que, ainda que confinada nas elites, transbordava sobre o conjunto da sociedade e nela influía, dando um sentido à vida e uma razão de ser para a existência.

A verdade - pensei - é que passamos da ilusão para o desencanto. Assim lamentam os intelectuais deprimidos. Inclusive eu - com uma contradição: sou fascinado pela Marvel e cia.

Por isso, depois, na rua, longe da tela, me bateu uma luz: afinal, o mundo não acabou; ao contrário, nunca mudamos tanto e tão depressa. Por que reclamar? Que saudade é essa que sentimos do presente como se fosse um passado?

No meio da avalanche brutal de informações, na enxurrada de 'autores' na internet, em meio ao universo de excessivas epopeias está surgindo uma nova forma de profundidade 'superficial', novas formas criativas em fluxo coletivo. E essas produções gigantescas ou mínimas, na web ou na tela de milhões de dólares, estão criando um barroco digital 'nas nuvens', uma arte-vida sem autor, como sonhou Nietzsche, única forma de dar algum sentido à existência. Já vi alguns 'blockbusters' de extraordinária imaginação 'wagneriana'. A tecnologia está criando uma nova estética. Avatar, por exemplo, Batman, ou a obra-prima da Marvel Thor e tantos outros já criam um novo universo, digamos, 'pós-reflexivo', lúdico, envolvente. Não falo de 'nova arte' ou uma nova cultura, pois isso já encerraria a ideia de 'finalidade', de meta a ser atingida. Falo de um caos maravilhoso que nos submerja para sempre num 'presente' inexplicável.

[Jabor é um escroto, mas o texto é bom. Posso diferenciar?]

Um conto/crônica linda do Gregório Duvivier

Mas antes


Ela saiu de casa batendo a porta. Mas antes, ele tinha mandado ela tomar no cu. Mas antes, ela tinha pedido que ele pelo menos limpasse a merda que fez. Mas antes, ele tinha derramado vinho no tapete. Mas antes, ela tinha duvidado de que ele derramaria o vinho todo no tapete. Mas antes, ele tinha dito que derramaria o vinho todo no tapete. Mas antes, ela tinha dito que a culpa não era dela de ele não ter um emprego. Mas antes, ele tinha dito que ela não precisava jogar na cara que ele não tinha dinheiro nem para comprar um tapete. Mas antes, ela tinha dito que a mãe dela merecia respeito, afinal de contas era ela quem tinha mobiliado o apartamento, do ventilador ao tapete. Mas antes, ele tinha dito que a mãe dela era uma vaca. Mas antes, a mãe dela tinha saído do apartamento batendo a porta. Mas antes, ele tinha pedido que a mãe dela saísse, de preferência sem bater a porta. Mas antes, a mãe dela tinha dito que ele estava mais gordo. Mas antes, ele tinha dito que a mãe dela estava mais velha. Mas antes, a mãe dela perguntou se ele tinha conseguido o emprego. Mas antes, ele disse que a mãe dela chegar de surpresa era só o que faltava. Mas antes, a mãe dela tinha chegado de surpresa. Mas antes, eles tinham se beijado e pedido desculpas e prometido que não iam brigar. Mas antes, ele perguntou por que é que nada que ele faz nunca está bom. Mas antes, ela tinha reclamado que ele não sabia nem abrir um vinho. Mas antes, ele tinha tentado abrir um vinho. Mas antes, ela tinha sugerido que ele abrisse o vinho. Mas antes, eles tinham se beijado. Mas antes, eles tinham deixado os filhos na casa da irmã dele. Mas antes, eles tinham dito que seria uma noite linda. Mas antes, eles tinham passado no supermercado e comprado o melhor vinho. Mas antes, ela tinha dito que tinha muito orgulho do marido que ele era. Mas antes, ele tinha chorado porque não era assim que ele se imaginava aos 35. Mas antes, ele tinha sido recusado na entrevista de emprego. Mas antes, ela tinha dito que confiava cegamente nele. Mas antes, ele tinha dito que era só uma entrevista de emprego, e que nada estava certo ainda. Mas antes, eles tinham combinado de comemorar as duas coisas, o aniversário e o emprego novo. Mas antes, eles tinham acordado e percebido que, naquela noite, eles iriam comemorar sete anos juntos. Mas antes, eles tinham sido felizes. Isso antes.
gregorio duvivier
Gregorio Duvivier é ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

O que é um bom roteiro? (Janela.art.br)

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Nesta edição da ]JANELA[, vamos falar sobre roteiro de cinema. Não espere encontrar aqui a fórmula para um bom script. Também não espere encontrar alguma lista com os melhores roteiros da história ou dos melhores roteiristas da sétima arte.  O que você vai se deparar é com uma coletânea de depoimentos de profissionais do cinema realizado em Goiás. Textos que buscam responder de forma simples e sintética as perguntas que abrem esse texto: “O que é um bom roteiro de cinema para você? Por quê? Cite um exemplo de filme”.
Além disso, nós fizemos uma pesquisa e listamos alguns livros disponíveis no mercado editorial brasileiro para quem deseja atuar como roteirista. Você vai encontrar dicas para contar uma boa história, construir personagens etc. Vai encontrar livros para quem deseja atuar tanto com ficção (a maioria dos títulos), quanto para quem pretende trabalhar com cinema documentário (embora existam pouquíssimas publicações destinadas ao roteiro para esse gênero no Brasil). Há também livros para quem quer escrever para televisão; textos para quem deseja trabalhar com novas mídias; e muito mais.
 Escrever roteiro não é uma tarefa fácil. E se você quer mesmo algumas dicas, aqui vão algumas bem previsíveis: leia muito; assista a muitos filmes; assista muitas vezes aos filmes que gosta (e que, especificamente, você julga ter um bom roteiro); faça cursos e oficinas de roteiro sempre que tiver uma oportunidade; e, principalmente, escreva e reescreva muito. Outra coisa: vale muito a pena trocar ideias com quem tem mais experiência que você.
Pensando nisso, a ]JANELA[ compartilha aqui algumas dicas sobre o processo de criação do roteirista mexicano Guillermo Arriaga, que esteve no Brasil para ministrar um workshop no II Ficção Viva: Encontros com Cineastas Ibero-americanos, realizado entre os dias 24 e 25 de novembro na cidade de Curitiba – PR. O roteirista foi vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes de 2005 por Os três enterros de Melquiades Estrada” e foi indicado ao Oscar porBabel, em 2007. Arriaga assina também o roteiro de Amores Brutos(2000), 21 Gramas (2003) e o roteiro e direção de Vidas que se cruzam (2008).

GUILLERMO ARRIAGA E SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO
 

 A PALAVRA
Arriaga salienta que é importante escolher uma única palavra para descrever a história. Essa palavra deve carregar o objetivo dramático da trama e é ela que vai nortear toda a equipe para que tenham clareza do tema do filme. Por exemplo, em Amores Brutos (2000), a palavra é “amor”; em Três enterros (2005) é “amizade”; em Babel(2006) é “incomunicação”.
 O CONCEITO
Para Arriaga, o conceito é a estrutura e a estética do filme. É um elemento fundamental para que se saiba qual o tom do filme, sua atmosfera. O roteirista observa que o conceito não é uma questão meramente formal, mas que diz respeito ao conteúdo, à substância do filme. Em Vidas que se cruzam (2008), Arriaga buscou nos quatro elementos da natureza (água, ar, terra e fogo) o conceito para sua obra.
 A CONJUNTURA
Os fios da trama de um filme são os fios do tempo que convergem para um ponto. Arriaga chama esse ponto de “conjuntura”. É importante que o roteirista pense sobre quais foram os momentos prévios importantes na composição daquela conjuntura, tanto os motivos internos (dos personagens) quanto os motivos externos. Um bom escritor consegue articular acontecimentos externos e internos na construção de suas tramas.
A DECISÃO
É importante que o roteirista defina se seu personagem decide ou se decidem por ele. Arriaga observa que, em geral, o público se identifica com personagens que assumem as rédeas de suas vidas. O roteiro deve conduzir o personagem a um momento de decisão. Isso significa tirá-lo da sua zona de conforto.
PERSONALIDADE E CARÁTER
Na composição dos personagens é importante definir a personalidade e o caráter. A personalidade é o modo provável de se comportar e o caráter é o modo necessário. Por exemplo, supõe-se que uma mulher generosa e simpática não irá agir de modo rude em seu cotidiano. Entretanto, cabe ao roteirista testar o seu caráter e expô-la a situações que a obrigue a fazer “o necessário”, ainda que isso contrarie a sua personalidade. Arriaga afirma que é mais interessante um personagem obrigado a expor seu caráter (seu limite), do que parado em sua zona de conforto.
21gramas
amores-brutos
vidas-que-se-cruzam
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 CONTAR HISTÓRIA
Para Arriaga, uma história não tem essência, portanto, ela é aquilo que se mostra. É papel do roteirista avançar na narrativa, revelar o personagem e colorir a trama. E ao contrário do que muitos consideram, Arriaga diz que o roteiro é uma forma literária, com suas especificidades como qualquer outra, tais como um romance, um conto, uma novela. Em absoluto, não é apenas um texto técnico, mas uma obra artística.  Guillermo diz que não admite que seu texto seja modificado. Cada palavra no roteiro não está ali por acaso e precisa ser respeitada. Reforça também que o roteirista precisa se apropriar dos muitos elementos da linguagem audiovisual, como a luz, por exemplo. Ele afirma que a luz tem uma função narrativa muito importante e fica admirado com o fato de que muitos escritores não levam isso em consideração, nem buscam um equilíbrio entre cenas que ocorrem durante o dia ou à noite, ou cenas internas e externas. Uma cena que ocorre à noite pode provocar uma reação emocional bem diferente se a mesma cena ocorresse durante o dia. Arriaga chama ainda a atenção para a função dramática da roupa. Há casos em que a roupa tem um peso emocional na trama. Em Três enterros(2005), um policial é obrigado a despir-se de sua farda e usar a roupa do homem que foi sua vítima. Arriaga salienta que destituir a farda de seu personagem tem um poder simbólico importante e conferiu um peso emocional à cena.
QUAL A SUA TRADIÇÃO?
Saber a qual tradição cinematográfica pertence é fundamental para o roteirista, ou seja, deve-se buscar saber qual o tipo de história se quer contar e como. Arriaga afirma que há muitos filmes onde “nada” acontece e outros com ação dramática intensa. O roteirista mexicano considera-se filiado à segunda categoria, porque gosta de contar histórias, de mostrar os dramas de seus personagens. Na opinião de Arriaga, esta é uma escolha que o roteirista precisa fazer.
 CICATRIZ
Arriaga observa que muitos filmes contemporâneos mostram pessoas chatas, vivendo suas vidas chatas. Essa “chatice” é própria da vida urbana, tão cheia de perigos que tem levado as pessoas a se protegerem do mundo. Ao viverem assim, tão protegidas, as pessoas experimentam pouco o mundo. E como fazemos filmes sobre nós mesmos, temos uma grande safra de filmes insossos, sem graça – assim como a vida que corre atrás das câmeras. O roteirista comenta que compramos roupas e calçados surrados, com aspecto de usados, porque eles revelam uma vida intensa que, de fato, não temos. Vivemos num mundo cheio de artifícios, asséptico e por estarmos assim, tão protegidos, nem cicatrizes nós temos (marcas dos acontecimentos, da vida, impressas na nossa pele). Segundo Guillermo, as tatuagens (em toda a sua artificialidade) são as cicatrizes do homem contemporâneo.
 DIÁLOGOS
Cinema é imagem. Então o trabalho do roteirista é contar histórias com imagens. Arriaga diz que os diálogos não devem ser maiores do que duas linhas, porque mais que isso significa que o roteirista está explicando a trama para o público. Sobre o pior erro que um roteirista pode cometer, veja a seção DICA

[Tirado de:

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Fim da revista Bravo



A Abril Mídia divulgou hoje, oficialmente, o fim da revista BRAVO! em todas as plataformas. A publicação – uma das únicas no país dedicada exclusivamente às artes, onde trabalhei entre agosto de 2005 e julho de 2013, como editor-sênior e redator-chefe – nasceu em outubro de 1997. Estava, portanto, à beira de completar 16 anos. Foi criada numa pequena editora de São Paulo, a D’Ávila, já extinta, e migrou para o grupo Abril em janeiro de 2004. Quando chegou à seara dos Civita, desfrutava de prestígio, mas padecia de má saúde financeira. Não sei dizer quanto dava de prejuízo à época. Só sei que, na Abril, o quadro não se alterou substancialmente, mesmo quando o título adotou uma linha editorial um pouco mais pop, um pouco menos “cabeça” que a de origem.

Com todos os defeitos que pudesse ter – e que realmente tinha, à semelhança de qualquer publicação –, BRAVO! não perdeu o respeito do meio cultural. Havia divergências de vários artistas e intelectuais em relação à revista. Os próprios jornalistas que passaram pela redação nem sempre concordavam 100% com a filosofia do título, ditada obviamente pelos donos. Uns o acusavam de conservador, outros de elitista, superficial ou condescendente demais. Mas havia também muita gente boa que gostava de nossas edições. O fato é que mesmo os opositores jamais recusaram sair nas páginas de BRAVO!. Quem trabalhava para a publicação raramente ouvia um “não” quando fazia pedidos de entrevista. Até Chico Buarque, famoso por se expor pouquíssimo na mídia, topou protagonizar uma capa junto de Caetano Veloso (deixou-se fotografar, mas não abriu a boca, convém lembrar). Todos, de um modo geral, reconheciam que a publicação buscava primar pela seriedade.

Mesmo assim, em termos comerciais, BRAVO! nunca gerou lucro – pelo menos, não na Abril (como disse, desconheço os números da D’Ávila). A revista, embora contasse com o apoio da Lei Rouanet, operava no vermelho. Em bom português, dava prejuízo – ora de mihões, ora de milhares de reais. Por quê? Vejamos:

1) BRAVO! dispunha de poucos leitores? Sim e não. A revista contava com cerca de 20 mil assinantes e 8 mil compradores em bancas e supermercados. Vinte e oito mil pessoas, portanto, adquiriam a publicação mensalmente. Se levarmos em conta os parâmetros do mercado publicitário, cada exemplar tinha, em média, quatro leitores. Ou seja: uma edição atingia algo como 112 mil pessoas. No Facebook, a publicação contava com 53.600 seguidores e, no Google +, com 30.900. Eram índices desprezíveis? Depende. Em comparação com revistas de massa, a maioria editada pela própria Abril, os números de BRAVO! nem chegavam a fazer cócegas. Mas, considerando que o título se voltava para um nicho relativamente restrito, o da alta cultura mais sofisticada, as cifras não parecem tão ruins. Em geral, BRAVO! falava sobre manifestações artísticas que, mesmo se destacando pela qualidade, não atraíam público quantitativamente significativo. A revista dedicava quatro, seis, oito páginas para filmes como "Tabu", do português Miguel Gomes, exposições como a retrospectiva de Waldemar Cordeiro no Itaú Cultural, livros como "O Erotismo", de Georges Bataille, peças como "A Dama do Mar", de Bob Wilson, e espetáculos de dança como "Claraboia", de Morena Nascimento. Procure saber quantas pessoas viram tais filmes, mostras e espetáculos ou leram tais livros. Cinco mil, 10 mil, 20 mil? Como BRAVO! poderia ter zilhões de leitores se o universo que retratava não tem zilhões de consumidores? A publicação, por sua natureza, enfrentava o mesmo problema que amargam todos os artistas do país dispostos a correr na contramão dos blockbusters.

2) BRAVO! perdeu leitores em papel com o avanço das mídias digitais? Perdeu, seguindo uma tendência internacional. A perda, no entanto, não se revelou tão expressiva e ocorreu num ritmo menor que o de diversos títulos.

3) Era mais caro imprimir a BRAVO! do que outras revistas? Sim, bem mais caro, por causa de seu formato e de seu papel, ambos incomuns no mercado.

4) BRAVO! tinha poucos anúncios? Sim. Raramente, a publicação cumpria as metas da Abril nesse quesito. O motivo? Falhas internas à parte, os grandes anunciantes costumam demonstrar pouco interesse por títulos dedicados à “alta cultura”. “O leitor de revistas do gênero, sendo mais crítico, tende a frear os impulsos consumistas”, explicam os publicitários, nem sempre com essas palavras. Pela mesma razão, tantos cantores, artistas visuais, produtores de teatro e bailarinos encontram sérias dificuldades para captar patrocínio.

A soma de tais fatores tornava BRAVO! deficitária. Ao longo dos anos, tentaram-se diversas medidas para estancar o sangramento. O número de páginas da revista diminuiu de 114 para 98; as datas em que a publicação rodava na gráfica da Abril se alteraram algumas vezes com o intuito de reduzir os custos de impressão (é mais barato imprimir em certos dias do mês que em outros); a redação encolheu; os projetos gráfico e editorial sofreram ajustes; criaram-se ações de marketing pontuais na esperança de aumentar a receita publicitária. Cogitou-se, inclusive, mudar o papel e o formato de BRAVO!. O publisher Roberto Civita (1936-2013), porém, sempre vetou a alteração. Acreditava que fazê-la descaracterizaria em excesso a revista.

A Abril poderia ter insistido um pouco mais? Pecou por não descobrir jeitos inovadores de sustentar a publicação? É difícil responder – em especial, a segunda pergunta. A crise está instalada na imprensa de todo o mundo. Gregos e troianos dizem que a mídia tradicional precisa se reinventar. Eu também digo. Mas qual o caminho das pedras? Não sei. No máximo, posso arriscar uns palpites. E seguir investigando, e seguir apostando. O mesmo vale para os empresários da comunicação.

Gostaria que a edição de agosto não fosse a última de BRAVO!. Entristeço-me com o fim da publicação porque aprecio muitíssimo a arte. Filmes, livros, peças, músicas, instalações, pinturas, balés e quadrinhos me ensinaram mais sobre viver do que a própria vivência. No entanto, não bancarei o viúvo rancoroso. Não lamentarei a baixa escolaridade do brasileiro, o pragmatismo dos publicitários e dos patrões, o advento da revolução digital. Tampouco abdicarei de minhas responsabilidades frente aos erros e acertos da revista. Fiz e ainda faço parte do complexo jogo em que a mídia se insere. Procuro encará-lo com amor, senso crítico e serenidade. Nem sempre consigo, mas...

De resto, queria agradecer tanto à Abril quanto a todos os leitores e profissionais (artistas, editores, repórteres, críticos, ensaístas, designers, ilustradores, fotógrafos, assessores de imprensa, executivos, vendedores, secretárias, motoristas e motoboys) que tornaram possível tão longa e inesquecível jornada.

Abaixo, a capa de nossa última edição, que chega às bancas na segunda- feira:

sábado, 4 de agosto de 2012

Construção de roteiro.


Conflito externo entre pessoas
Conflito externo entre pessoas e o ambiente
Conflito interno entre duas partes de uma pessoa (conflito moral)

Homem se aprontando - assobiando e feliz - para um encontro
Mulher com um ânimo bem diferente se preparando para o mesmo encontro
(coloca uma arma na bolsa)

Assaltantes se preparando para roubar uma casa
Detetives em vigília, preparando para prendê-los
Mulher na casa armando esquema de suicídio

Homem no espelho ensaiando para pedir um aumento
Dois gerentes discutindo como vão demiti-lo
[E se a demissão vier depois do pedido de aumento, em vez de precedê-lo?]

Ironia visual:
Mulher compra vestido novo
Homem esqueceu de limpar os sapatos

Causas e efeitos relacionados//
Pensar sequencias simultâneas/ações paralelas//retrospectiva

Paralelas:
- entrecortar duas linhas narrativas
- contrapor dois estados de espírito
- levar duas paralelas em contraste
- acontecimentos separados e simultâneos para convergência.

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PAISAGENS PARALELAS
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[01] Homem prepara tomada com vários benjamins, senta e assiste tv (não vê faiscas)
[02] Mulher em outro apartamento liga secador de cabelo (luz oscila)
[03] Menino põe café sobre monitor de computador, e começa a jogar no teclado com fone de ouvidos.
[04] Homem sobe numa escada instável e martela um prega na parede do apartamento [lustre trepida]
[05] Mulher gorda liga um rádio na maior altura para evitar barulho, e executa delicados passos de balé
[06] Gato brinca com novelo que cai embaixo da escada e se enrosca no benjamin
[07] Cego prepara-se para tomar banho de banheira
[08] Mulher esquece secador ao lado da banheira e vai atender telefone animadamente
[09] Leite sobe, derrama, apaga chama e libera gás
[10] Garota gripada rouba cigarro e isqueiro da bolsa da mãe que conversa ao telefone
[11] Bebê ergue-se para alcançar móbile [parafusos afrouxam no cercadinho]
[12] Carro na garagem escorre gasolina e cria poça até o gramado
[13] Garota risca isqueiro, mas não funciona, procura caixa de fósforo
[14] Menino empolgado bate o pé no rack do computador, café começa a derramar
[15] Cego mergulha na banheira [secador treme com as marteladas do vizinho e com o balé da gorda]

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Terror em um minuto

Escuridao. Som estridente de alguém batendo e arranhando a porta. No quarto, grito de mulher, seguido de nervoso som de isqueiro. Chama. Uma vela é acesa e posta num pires. Rosto de mulher em pânico.

"João, acorde! Acorde, João!"

Ao lado da cama, um corpo se move sob um cobertor. Um homem estende o braço

"João, acorde!" Estica a mão para tocá-lo, mas ele se vira violento para ela. A encara, irritado, sem nada dizer nada.

"Você ouviu? Não ouviu? Tem alguém lá fora."

Ele a encara severo, mas não diz nada. Olha para ela impaciente, sempre fixamente, mas nao faz nenhum movimento, indiferente a sua aflição.

Batidas violentas. Ela corre pra janela, tenta olhar pelas frestas, sempre apoiando-se na vela, sombras horriveis são projetadas nas paredes. 

Ela se aproxima da porta. 

O homem volta a se virar na cama.

"Você não vai fazer nada? Vai ficar aí parado?" 

Ouve-se uma batida na janela, forte. Ela mais se apavora. João indiferente, olha o teto.

As batidas tornam-se insuportavelmente fortes. A janela treme, ameaça estourar. Entre gritos e lágrimas, ela apoia as costas na janela. 

"João, me ajude!"

Sem pressa, ele se levanta, senta-se impaciente na cama e cruza os braços. 

A mulher grita. Grita, as batidas intensas. Ela está histérica, a maquiagem rola pelo rosto.

João se levanta, se aproxima e usa a vela para acender um cigarro, traga, lança fumaça no ar. Fica de pé e se aproxima dela, indiferente às batidas que ameaçam derrubar a janela e o desespero da mulher

"Voce vai ficar aí parado, seu desgraçado? Inútil! Inutil! Inutil!"

Furioso, ela desfere com violência um tapa no rosto da mulher. 

"Por que você não cala a sua boca, sua vaca? Você não cansa de repetir isso toda a noite?"

Param as batidas da janela, no silêncio, só se ouve a respiração ofegante da mulher.

"Eu já entrei! A casa agora é minha!" E você está morta! morta!"


Ela recua de costas até a porta, sempre de cabeça baixa, o cabelo cobrindo o rosto. Respiração ofegante que aos poucos vai se tornando uma risada. Ela ergue lentamente a cabeça, enquanto a risada explode histericamente numa gargalhada, o rosto sombrio, olhando pra ele. Ameça dar um paço em direção a João. E desaparece.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

LAURO
Se este filme começasse pelo fim, ele começaria com uma morte. Ou com um beijo. Melhor, viria primeiro o beijo, depois a morte. A morte e o beijo viriam juntos. Melhor: o beijo levaria a morte. A minha morte. O meu beijo. Mas o filme não começa assim. Começa com começam os filmes. No começo, só com a morte, sem beijo. A morte do meu avô.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Recebido do Gabriel

Segue a fórmula do sucesso para a produção de vídeo digital e divulgação na web:


"Frequentemente as pessoas me perguntam como eu gravo, filmo, criando aquelas cores, etc. É tudo muito simples, e aqui vai minha pequena receita. Eu filme principalmente com a Panasonic 171, em que eu uso um microfone "shotgun" (literalmente "tiro"). Eu gravo sons separadamente usando um gravador "4-track" (literalmente 4-faixas), no qual eu plugo de 1 a 4 transmissores padrão sem fio da Sennheiser, usando diferentes "laveliers" (niveladores?), Sanken ou Tram. Eu também uso um ou dois microfones ambientes se possível no "4-track" (quatro trilhas), um omni-direcional e um ultra direcional sendo a saída perfeita. Eu frequentemente acrescento a tudo isso um outro pequeno gravador isolado, o Zoom H2 sendo realmente barato e bom. Eu então faço todas as edições no Final Cut Pro, e até faço as correções de cor nele. Eu aconselharia usar Compressor para comprimir os vídeos então, e, claro, o maravilhoso site do Vimeo para hospedá-los na web." - Vincent M

http://vimeo.com/vincentmoon/videos

Frontal com fanta

Frontal com fanta

sábado, 16 de abril de 2011

Ouija



Gravado com Canos EOS 5D

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Gravador de audio Zoom h2

 Gravador de Áudio Voz Digital Profissional Zoom H2, Qualidade Alta Definição 24-bit/96kHz, Gravação 360°, Eliminador de Ruídos, Entradas 3.5mm, (Grátis SD 4Gb)

Zoom h2




Zoom h4

Vídeo produzido pela Canon Rebel T2i


Gabriel me mandou esse vídeo que foi feito na câmera CANON REBEL T2i. Quero comprar pra fazer meus filmes com baixo custo, boa mobilidade e qualidade de imagem, a ser trabalhado num programa de edição básico que não exija máquinas pesadas demais. Quero fazer uns filmes/curtas/docuS básicos, e estou na crença de que agora vai. Este vídeo postado foi feito pela produtora Mondocao Films, com espírito colaborativo, eles já trazem informação sobre como o vídeo foi produzido:  [Férias de Santa Rita [DSLR old film look] Filme-experimento da nossa incrível viagem de fim de ano pra Santa Rita do Passa Quatro. Filmado em HDSLR, com uma Canon T2i(550D) + lente 50mm f1.8. Editado e colorizado pelo Sony Vegas Pro 10. Pra atingir essa textura, usei somente color corrector e técnicas de burning blend. ]






quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Testamento

"... e para Orlando deixo meu coração baleado", escreveu, Julinha, no bilhete suicida. 

Navalha

- Tá vendo como eu te amo?!
[E passou a navalha nos pêlos crespos do púbis]

Primeira impressão

Volumoso
Quadrado
Orelhas curtas
Cheio de frases longas
inteligentes.
Convencional,
mas com
algo poético:
amava suas negras palavras.

Não conseguia largá-lo
No parque
No quarto
Na cama
mudo, feito o criado à cabeceira
submetia-se
deixava-se abrir
entregue: um livro aberto.

Embora,
o fim se anunciasse
desde o começo,
deixava-se dedilhar
manipular
manusear

ele era seu bilíngüe amante
dando prazer
sobressaltos
gostos
desgostos

até o inevitavel desfecho
na página 348.

Bíblico

A palavra sagrada publicada 
versículo a versículo, 
e Deus resolveu calar-se para todo sempre. 
E nunca se citou, para não soar arrogante.

Orelha

A ausência sentida de uma orelha 
na biografia de Van Gogh

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

LISTEI TODOS OS POSTE QUE FIZ NO BLOG DAS 30

Abaixo, pus os 21 post que fiz no Blog das 30 Pessoas do qual saí hoje. Eu realmente me orgulho da maioria deles.

PASSA-SE ESSE PONTO

ou Recado para o novo ocupante
ou Mensagem de despedida para os companheiros dos 30
ou Bye-bye erótico-saudoso
ou último post do Edu Araújo



Passo esse ponto.  Arejado, cheio de ideias novas e alguns lugares-comuns. Costuma ser bem frequentado. Às vezes espiam e comentam, mas é coisa da vizinhança, e vizinho a gente não escolhe. De um modo geral ninguém se mete na vida de ninguem, e a maioria gosta bastante de visita. No começo, ainda que menos frequentado, sempre escreviam recados os que por aqui passavam, não sei por que perderam o hábito. E as pessoas, que ocupam este espaço, fingem que não, mas gostam que falem delas, das coisas delas. Tem muita gente carente nesse mundo. Vezenquando aparece fotos familiares. Uns choram nos seus quadradinhos. Põem música, videozinho. Mandam recado. De dor de dente à dor de amor. Cabe tudo. Conto de fada, continho pornográfico, mulher nua, poesia que ninguém entende, dialogos-piadas, tramas policiais, cartas, reportagem especial de automobilismo. Entre e fique à vontade! Pode puxar aquela banqueta, àquela, criatura, no pé da página.

Ocupam o espaço uns tipos neo-hippies super hypes, viajantes, jovenzinhos na maioria (Mas nem se diz, pelo bonito que escrevem!). Andam meio melancólicos ultimamente. Desconfio que mais da metade fuma maconha, o que não chega a incomodar. São discretos. Se tem intriga, resolvem via email, coisas de gente moderna. Mas no fundo, eu acho que é tudo gente de família, respeitadora e temente a Deus. Adeus, foi o que eu disse. 

E digo de novo, olhinhos marejados de água como clichê de novela da Globo: "Foi bom estar aqui". É um espaço agradável, de gente comprometida/descomprometida/metida. Uns dias e outros ficam lacunas no espaço. Acontece, como quem falta ao serviço. Mas será que pesa tanto assim uma vez por mês? 

O certo é que foi bom, enquanto durou. É duro partir, e parto. Fiz um monte de coisa boa aqui, que me orgulho. Botei na vitrine, por um tempo, o melhor de mim. Mas com os dias, alguma coisa se perde, se desgasta, a gente olha em volta, dá um desânimo, um vazio de rotina. Sabe papai e mamãe todo dia? A gente quer que algo aconteça, espetacular, e nada. E antes de acabar todo o gás, ser mera obrigação, compromisso, a gente bate a mão no tapetão e pede pra sair. Feito agora. Razão para deixar a vaga, e dizer, feito fim de relação: o problema não é você, sou eu, baby.

Ponto passado, com exigência ao novo ocupante: Vê se respeita o dia 13 que é quase dia santo, de tão bonito número, de sorte e azar. Hasard. E não maltrate o Português, porque se é pra transgredir, faça com alguma razão e domínio do jogo: ideias e palavras friccionando no espaço, para gerar surpresa, encantamento. Textos longos enfadam, mas dane-se, se confiar bote, que há sempre alguém neste mar à deriva pra se atracar nele. E fuja ao piloto automático, ao post gambiarra. Ok, meu último foi assim, mas é por que brochei. Tesão é coisa divina, todo gozo é gozo santo. E eu digo a você: só faça o que tiver que fazer "com prazer". Muito prazer, seja bem vindo! A casa é sua. Já pus a mudança no meu caminhão. Deixo essas coisinhas aí no espaço, se não tiver que fazer, dê aos pobres, pois o que não falta é pobre nesta vida. Não se assuste com o eco do espaço vazio. Dê uma demão de tinta na parede. Decore o ambiente com seu estilo, imprima aqui sua personalidade. Seja bem vindo. 


Puxa, quase dois anos aqui! 21 postagens (contando com esta), dá para acreditar?! Pus tudo aqui pra no caso de sentirem saudades. Juro que volto em visitas surpresa para ver se não escangalharam a casa, que isto aqui é zona de respeito, de prestígio, doce de coco. É ísso! E desculpe pelo alongado do adeus, é que a gente faz isso nas despedidas, mesmo sendo da nossa vontade. Mudar é foda, despedir pior. Então vou. Deixo endereço, para caso de contato e dúvida. E um clipezinho, que boto depois, é de um show que fui, para encher por inteiro o espaço da saudade. Saudades.


Amor.

Edu

Sobre deuses e monstros

Tem jeito? A gente manda nesse coração cachorro? A gente quer é se ferrar fazendo tudo errado. Tudo que não deve. E sabendo que a gente vai se ferrar depois (por que sei). O caminho melhor é aquele outro. Mas essa pá de cal fica na mão. A gente tem que velar o corpo do amor, entregar o cadáver a Deus, enterrar bem fundo, fazer missa de sétimo dia, chorar até esquecer. Mas lá vai a gente: psicografia, mensagem pro além, chico-xavear o amor defunto, evocá-lo, zumbizar pela cidade. Tem jeito? O cérebro devorado no final. E esse nó no peito. Quem entende? Por que a vida não pode ser simples assim, como era, antes de tudo desbaratar certezas?

Azul e branco




II



Na verde espessura
Do fundo do mar
Nasce a arquitetura.

Da cal das conchas
Do sumo das algas
Da vida dos polvos
Sobre tentáculos
Do amor dos pólipos
Que estratifica abóbadas
Da ávida mucosa
Das rubras anêmonas
Que argamassa peixes
Da salgada célula
De estranha substância
Que dá peso ao mar.

Concha e cavalo-marinho.

Concha e cavalo-marinho:
Os ágeis sinuosos
Que o raio de luz
Cortando transforma
Em claves de sol
E o amor do infinito
Retifica em hastes
Antenas paralelas
Propícias à eterna
Incursão da música.

Concha e cavalo-marinho.

III



Azul... Azul...

Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco

Concha...

               e cavalo-marinho. 

Vinícius de Moraes



[No Palácio Gustavo Capanema, o poema de Vinicius de Moraes materializado em azulejos de Portinári: azul e branco. Manhã de segunda-feira, Rio de Janeiro, e um dia de sol.]

[O Palácio Gustavo Capanema foi construído entre 1936 e 1945, por uma equipe liderada por Lucio Costa.
Nela, estavam os então jovens Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão e Oscar Niemeyer, entre outros. Os jardins foram desenhados por Burle Marx. Os azulejos da fachada, bem como os painéis do segundo andar, por Candido Portinari. Por tudo isso, o Capanema é considerado um dos principais edifícios do modernismo brasileiro, e seu prédio é tombado desde 1948.]


Investigação acerca (do crime) de Eduardo AT

Todas as janelas da casa dão para muros. Ele vive uma vida sem paisagem. 


Barrando a porta da sala de estar, uma mesa balcão com dois computadores. Empilhados: livros, revistas, dvds e cds, desordem de canetas, agendas. Fios entrecruzados à beira de um curto. Imaginam-se horas diante do escritório improvisado. Vida sem visitas. Caos no trabalho e nos dias. Utopia de alguém que insiste em ganhar a vida com escritos e filmes.

Estantes de metais encurvando livros. Burras de carga de um pretenso saber. Pouco mais que a metade com páginas anotadas a lápis, o que pressupõe que nem todas lidas.

Sobre a geladeira um boneco articulado em fuga. Adesivos em desordem. Lâmpada queimada na luminária dupla. Torneira estrangulada para não gotejar segredos martelando insônias na madrugada. Interruptores falhando em luz, impondo escuridão. [Na última gaveta da pia, interruptores e borrachinhas novas para o conserto que por preguiça, falta de tempo ou tédio não realiza.]

No guarda-roupa, calças tamanho 42 em harmonia com outras 48, assim como camisetas M com GG e XL (velhas e novas), o que pressupõe oscilação frequente de peso ou grave doença recente. O predomínio de camisetas pretas com gola V convivendo com outras, de cores diversas, nunca usadas. Luto ou equivocada forma de se fazer atraente. 

No cômoda, suplementos de academia em convivência com apostilas de cursinho. Anotações, rascunhos em papéis, planos de aula, lista de alunos, redações corrigidas, tudo denunciando a segunda profissão, que de mais antiga só perde para a das putas; mas sem igual prazer, igual reconhecimento e remuneração.

No criado mudo, a tristeza de contas por pagar e pequenos recibos com seu nome estampado em solidão, tudo reafirmando o fato de ser solteiro e estar por si.

Numa sacola, dúzias de preservativos tanto gritam dias de intensa promiscuidade ou de absoluta abstinência. Cuecas novíssimas, de marca cara dando indício de relacionamentos recentes, tudo a par de meias confortáveis da algodão, tênis diversos, bonitos, não-gastos, empilhados e que dizem, por isso, que ele precisa andar mais, viajar mais, buscar novos caminhos.

Na janela do banheiro, várias escovas de dente, pastas pela metade, pomadas para toda espécie de praga, alergias. Lâminas de barbear. Pinças. Cotonetes. O nonsense de pentes finos e xampu que  riem de sua cabeça raspada.

Na cozinha, o relógio que antecipa seus costumeiros atrasos, anuncia com seus ponteiros as 2:06 da noite, ao lado de um pinguim exilado que mira do alto a mesa onde pares de pratos comprovam um jantar noturno. O desleixo da mesa  e as panelas ainda quentes no fogão falam de uma noite compartilhada. Mas os cobertores e travesseiros em dois sofás distintos, voltados para tevê berram amizade (e não sexo) nesta noite fria de novembro.

Não há porta-retratos, imagens de santos na casa, poucos bibelôs (que desgosta), mas há um tarô no criado mudo cuspindo arcanos e destinos. Há também um baralho lacrado noutra gaveta, convivendo sem fé com uma bíblia, documentos postos em pastas e pequenos aparelhos eletrônicos, comprimidos para dores, gripe e azia. 

Agora pouco tocou o celular. São trinta e dois números listados na agenda. Seis ligam com frequência. Os torpedos mais recentes são de André, Cinha, Cristiane, Murilo, Matheus P e Lucas. Âncoras com mundo exterior que impedem que afunde em si? Trombetas que anunciam que a vida está lá fora, e se faz melhor nos encontros?

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Por fim, esse espelho atrás da porta do quarto para ele se ver, para se saber, para se fotografar vezenquando. Espelho que é testemunha ocular do espetáculo monótono dos dias, e que não lhe questiona o certo/errado do viver. Assim, paremos neste espelho, que amplia a ilusão do quarto e de si, já que todos os mínimos indícios do dia  vão dar no sujeito frente à superfície: ele que é dele mesmo a (sua) mais frequente companhia.